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domingo, 26 de julho de 2015

Tecnologia não é perfumaria, deve estar no centro da gestão pedagógica

Aluno utiliza plataforma de aprendizagem adaptativa. Crédito: Na Lata
Aluno utiliza plataforma de aprendizagem adaptativa. Foto: Na Lata

Olá, leitor!
Faça um exercício: pergunte a seus colegas professores, coordenadores pedagógicos ou diretores quais são as aplicações da tecnologia na Educação. É provável que as respostas indiquem máximas como “ser aliada do professor na construção do conhecimento, permitindo que ele assuma o papel de mediador” ou “ser um meio de falar a linguagem do jovem”. Embora eu acredite que a tecnologia realmente permita aos professores assumirem novos papéis e estimule o interesse dos alunos pelos estudos, provavelmente ninguém na enquete ressaltará outra função bastante relevante: o de ferramenta de gestão pedagógica.
Acredito que a tecnologia deva ocupar um lugar central tanto no chão da escola quanto no planejamento e na gestão pedagógica, principalmente na rede pública. Comecemos pelo chão da escola: um estudo do ano passado do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) sobre a introdução da tecnologia em escolas da América Latina, Índia e China revelou que os resultados mais significativos, com 17% de melhoria nas notas, vieram dos projetos de aprendizagem personalizada. Segundo o BID, eles “forneciam softwares usados para identificar, por meio de testes, em quais tópicos da matéria cada aluno tinha mais dificuldade e ofereciam atividades para superar as deficiências, como videoaulas”. (Leia sobre o estudo na reportagem Lentidão na sala de aula, no site da revista Exame.)
Inteligência artificial e personalização
Exemplos dessa aplicação são o Geekie Lab e a Khan Academy. A cada interação do aluno – ao ler textos, assistir a vídeos e realizar atividades ou avaliações –, a inteligência artificial do Geekie Lab, por exemplo, “entende” melhor o perfil do aluno e gera planos de estudo personalizados. Se o estudante demonstra domínio de um determinado tópico, a plataforma sugere para ele assuntos mais complexos. Se tem dificuldades nas atividades, ela o remete para assuntos anteriores que são pré-requisitos para a compreensão daquele tópico.
Com relatórios que indicam de forma precisa o estágio de conhecimento de cada aluno, o professor pode realizar o sonho de todo educador: dar atenção personalizada, mesmo em turmas grandes. Ruth Correa, coordenadora pedagógica da EE Jardim Riviera, em Santo André, na região metropolitana de São Paulo, nos contou um exemplo interessante do uso da plataforma em sala de aula: “O professor de Matemática estava ensinando matriz, conteúdo que exige, no mínimo, quatro ou cinco aulas. Numa delas, enquanto trabalhava com um grupo de alunos com mais dificuldade nesse assunto, os outros assistiam a videoaulas”, disse. “No final, todos corrigiram juntos os problemas, discutiram as questões e o professor resolveu alguns deles na lousa.”
Do ponto de vista do coordenador ou do diretor, as plataformas fornecem uma visão panorâmica. É possível enxergar padrões de desempenho por turma ou unidade e investigar por que uma classe ou escola de uma rede tem rendimento maior em, digamos, Matemática – ou em assuntos específicos, como equações de 2º grau. Assim, é possível descobrir práticas bem-sucedidas dos professores e replicá-las.
Nível macro e ID digital
O ideal é que esses usos dos dados caminhem com subsídios para decisões macro, tomadas por gestores de grandes redes, como secretarias de Educação – algo já discutido em outros países há alguns anos. No artigo Creating Data Driven Schools (Criando Escolas Orientadas por Dados, em tradução livre), os especialistas americanos Penny Noyce, David Perda e Robert Traver citaram o caso de um grupo de escolas públicas de Massachusetts, nos Estados Unidos, que identificou em exames estaduais uma correlação estreita entre a fluência na escrita e o desempenho em Matemática, Ciências, Língua Inglesa e Artes. As autoridades criaram uma escala de oito níveis de leitura/escrita para o professor classificar os alunos nas avaliações e orientaram as escolas a desenvolverem projetos especiais com aqueles que apresentaram mais dificuldade. Depois, definiram como meta reduzir em 25% por ano o número de estudantes classificados no nível mais baixo da escala.
O mais importante é que o uso de dados pode ser aplicado a qualquer área. O estudo cita outra possibilidade fascinante: a criação da identificação digital (ID) do estudante. Isso daria a professores e gestores acesso à trajetória do aluno, o desempenho em todas as provas já realizadas – um software pode gerar relatórios dos seus pontos fracos e fortes ao longo da vida escolar –, o histórico disciplinar e até o familiar. Assim, uma escola de Ensino Médio que recebe um aluno do Fundamental 2 não vai mais se deparar com um ilustre desconhecido. Ela pode, por exemplo, montar um planejamento individual antes do início das aulas para ajudá-lo no percurso de aprendizado.
No centro do processo
Embora eu admita que parte do que abordei aqui está distante da realidade atual da maioria das escolas brasileiras, vamos olhar o copo meio cheio: as plataformas já estão aí, ajudando alunos de algumas redes públicas, inclusive na preparação para o Enem. E as aplicações mais sofisticadas virão, com certeza, em velocidade diretamente proporcional à pressão de educadores para que sejam adotadas. O essencial é enfatizar a mensagem de que a tecnologia está no centro do processo de modernização do ensino para o século 21. Encará-la como perfumaria é, definitivamente, subestimar seu potencial de transformação da Educação.
Um abraço,
Claudio Sassaki

Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/blogs/tecnologia-educacao/2015/07/21/tecnologia-no-centro-da-gestao-pedagogica/

Para o que serve o ENEM?

Ouvimos especialistas em Educação para esclarecer dúvidas freqüentes em relação ao Enem


26/05/2015 18:56
Texto Marina Azaredo e Camilo Gomide 
Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/politica-publica/pra-que-serve-enem-470728.shtml
 
 

O que o Enem avalia? Podemos medir a qualidade de uma escola pelo desempenho de seus alunos na prova? Ele é um bom parâmetro para avaliar a Educação brasileira?

As mudanças recentes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), anunciadas pelo governo, provocaram polêmica em torno da prova e de seus objetivos. Muito tem sido dito sobre o exame do ensino médio, mas ainda faltam definições concretas, o que tem causado confusão em estudantes, pais, professores e profissionais da área. Uma das distorções mais frequentes ocorre quando a nota dos alunos no Enem serve de base para a criação de rankings de escolas.

Para entender melhor os propósitos do exame e as conseqüências da transformação da prova, o Educar Para Crescer consultou três especialistas em Educação. Nas questões abaixo, o sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, o professor da faculdade de Educação da USP Nelio Bizzo e o coordenador de vestibular do Colégio Bandeirantes, em São Paulo (SP), Osmar Antônio Ferraz*, ajudam a esclarecer algumas dúvidas sobre o Enem.


*A entrevista original desta reportagem foi realizada em 2009, mas as informações foram atualizadas. Osmar Antônio Ferraz faleceu em 08 de maio de 2015. 

1. O que o Enem avalia?
Simon Schwartzman: A prova do Enem avalia, sobretudo, habilidades gerais dos alunos que estão concluindo o ensino médio. Ao invés de cobrar conteúdos específicos, como no tradicional vestibular, o exame analisa a capacidade de leitura, interpretação de texto e a aplicação de conceitos dos estudantes.

Nelio Bizzo: O Enem foi proposto inicialmente para aferir a capacidade de raciocínio dos alunos, na tentativa de diminuir as desigualdades entre estudantes de escolas públicas e particulares. O modelo, no entanto, tem se mostrado muito mais eficiente para medir o nível de leitura e interpretação de textos dos candidatos do que o raciocínio. A habilidade leitora é muito mais desenvolvida pelas classes mais privilegiadas, que possuem acesso maior à escolarização e bens culturais.
Simon Schwartzman: O exame não avalia o conteúdo específico da aprendizagem. Não verifica se o aluno aprendeu o que o currículo do ensino médio deveria ensinar. Isso tem a ver com o fato de que, no Brasil, nós não temos um currículo muito bem definido. Alguns países têm uma grade curricular muito mais estruturada. Os alunos, ao final do ensino médio, têm que saber determinados conteúdos de matemática, geografia, história, etc. No Brasil, isso não é bem delimitado. Temos alguns parâmetros curriculares, mas eles são muito vagos. E o Enem não mede isso. Portanto, é impossível saber se os alunos estão aprendendo e o que eles sabem.

Osmar Antônio Ferraz: Ao contrário dos vestibulares, o Enem não avalia conhecimentos específicos de maneira aprofundada. Mas não é verdade que ele não o faça: esses conhecimentos específicos são abordados de maneira interdisciplinar.